sábado, outubro 22, 2011

projecto de documentação.

TEASER #12


DIÁLOGO
Cut, copy and paste

Uma conversa escrita entre Nelson Guerreiro e DJ Next Track.


©Nuno Patinho, mashup de Nelson Guerreiro com Virgílio Castelo, para o espectáculo Vaivém/A história verdadeira de um projecto transdisciplinar, Montemor-o-Velho, 2005.



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Nelson Guerreiro — É curioso, isso tem muito a ver com o trabalho do Rogério. Ele também dá muita importância à leitura individual, à escala microscópica das emoções de cada um e, por inerência, à responsabilização do espectador. Neste projecto, ele trabalha sempre para poucas pessoas e a partir da partilha da sua escuta. Para além disso, os seus trabalhos não estão encriptados. São transparentes. Faz da forma conteúdo, mostrando como faz. As suas intervenções são como os programas de culinária na TV em que o chef, ora numa sofisticada cozinha indoor cenográfica, ora numa cozinha realista, ora numa cozinha improvisada em fundo natural numa qualquer parte do mundo, nos encaminha desde a preparação até ao toque final. Produz pequenos gestos que fazem toda a diferença: mostra um cartaz que diz Ne me quitte pas, abre a porta da sua casa, dá a provar um bolo que fez, diz adeus e olha duas ou três vezes para trás, tal como o chef, quando põe a erva decorativa na borda do prato, faz cair uma chuva de vários queijos, ou quando pulveriza o seu cozinhado com essências pouco calóricas! If you know what I mean… Mostrando como se faz, tem tudo à vista, não esquecendo, claro, a partilha dos ingredientes, à excepção do tempo de cozedura, o que no caso do Rogério diz respeito ao funcionamento do seu pensamento e ao modo como ele produz as acções, num tempo condensado. Pois, tal como em televisão o tempo é sempre pouco e tão precioso, também na performance o tempo é ouro, tem de ser eficaz, numa exigência paradoxal e inadvertidamente capitalista.

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DJ Next Track — O que me estás a dizer é que ele não procura controlar totalmente o seu trabalho. Como se procurasse instaurar uma espécie de relativismo, cujo enunciado não se prende com isso, mas com o facto de o seu trabalho se destinar a poucas pessoas e haver esse reconhecimento de que cada leitura é individual, que cada pessoa fará dos espectáculos o que bem entender. Isso também me faz lembrar uma piada sobre um tipo que vai ao psiquiatra e diz: “Senhor doutor, estou muito preocupado porque só penso em sexo!” O psiquiatra mostra-lhe uma foto de uma vaca e pergunta: “O que é que isto lhe faz lembrar?”. “Um homem e uma mulher a fazer amor”, responde o paciente. De seguida, o psiquiatra mostra-lhe uma foto de uma caixa de papelão. “E agora, o que é que isto lhe faz lembrar?”. Resposta: “Um homem e uma mulher a fazer amor”. Depois, mostra-lhe uma foto com uma caixa de uma dúzia de ovos e diz: “Muito bem. E isto, faz-lhe pensar nalguma coisa?”. “Um homem e uma mulher a fazer amor”. “Bem”, diz o doutor, “tenho de lhe dizer que está mesmo obcecado com sexo”. “Eu?”, responde o paciente. “O doutor é que ainda não parou de me mostrar essas fotografias porcas!”. O Edgar Degas também dizia que a arte não é o que se vê, mas o que se dá a ver aos outros.

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Mais um teaser que sucede a pré-publicação online e parcial de Vou A Tua Casa/Projecto de Documentação [livro e vídeo-documentário] num website que foi disponibilizado no passado dia 21 de Outubro de 2011. A seguir também aqui!